top of page

Análise do filme A Colina Escarlate

Universidade de Brasília – UnB

Instituto de Psicologia – IP

Departamento de Psicologia Clínica – PCL


Disciplina: Psicologia da Personalidade 1

Professora: Elisa Walleska Kruger Alves da Costa

Aluna: Andreza Carine Gonçalves Pedro

Trabalho individual


Análise do filme A Colina Escarlate




1 – Introdução


O seguinte trabalho é uma análise, feita a partir dos conhecimentos adquiridos ao longo da disciplina Psicologia da Personalidade, na qual será feito um estudo do filme A Colina Escarlate com base na teoria psicanalítica. Este filme conta a história de dois irmãos que apresentavam alguns hábitos socialmente reprováveis. Ao descrever estes comportamentos serão levantadas hipóteses que expliquem a ocorrência dos mesmos.


2 – Resumo do filme


O filme A Colina Escarlate (2015), dirigido por Guillermo Del Toro, conta a história de uma jovem, Edith Cushing, que vê fantasmas desde a infância. Quando adulta, conhece o inventor Thomas Sharpe e, após o misterioso assassinato de seu pai, casa-se com ele. Juntos eles vão morar na antiga mansão da família Sharpe, junto com a irmã de Thomas, Lucille Sharpe. A enorme mansão é um lugar velho e assombroso, com um buraco no teto, por onde entra neve, rachaduras no chão, nas quais entram um barro vermelho que a faz parecer sangrar, e barulhos de rangidos e ventos por toda a parte, dando a impressão que a casa respira. Esse cenário macabro faz a casa parecer viva, e conhecer toda a história vivida ali traz uma perspectiva ainda pior do lugar.


Ao longo do filme, Edith vai conhecendo parte da triste infância dos irmãos Sharpe. Ela descobre que eles passaram grande parte da infância presos juntos no sótão. Pouco se sabe sobre seu pai, mas o que é descoberto dá a entender que se tratava de um senhor cruel, com pouco carinho pelas crianças e pela esposa. Esta é agredida pelo marido e precisando dos cuidados de sua filha mais velha. Porém, ela acaba descobrindo na união dos filhos uma relação incestuosa. Recebendo a desaprovação da mãe, Lucille comete matricídio. O final do pai não é revelado.


Para manter a casa, Thomas realiza uma sucessão de casamentos com moças que possuem dinheiro e nenhum familiar que dê por sua falta quando Lucille mata-las, envenenando-as aos poucos. Ele não tinha relação sexual com nenhuma delas, até se casar com Edith, que, avisada pelos fantasmas que habitam a casa, descobre o plano dos irmãos.


2.1 – Análise dos personagens


O complexo de Édipo se refere ao desejo apresentado pela criança por seu cuidador, normalmente o pai ou a mãe, que vê no outro que não é seu objeto de desejo um rival, alguém com quem tenha que disputar por atenção e afeto. É nesse primeiro afeto que os indivíduos são definidos como seres sexuados que tem seu desejo negado por normas culturalmente impostas. A partir daí é formada uma “rede de representações e afetos”. Ao estabelecer tais representações, uma de identificação e outra como um ser que não se pode desejar sexualmente, é estabelecida a castração. No caso de Thomas, que aparenta ter sido cuidado pela irmã, que era dois anos mais velha, a castração parece não ter sido realizada já que seus desejos sexuais foram realizados.


Outra possibilidade seria que Thomas tivesse transferido seu desejo pela mãe para a irmã sem que houvesse a castração, sem que o impulso sexual fosse tirado desse afeto. O mesmo poderia ter acontecido com Lucille, já que os dois tinham idades próximas. Devido, também, as suas idades semelhantes, os dois passavam juntos por algumas fases do desenvolvimento psicossexual, como a latência e a genital. Vale lembrar que eles passavam muito tempo juntos, sozinhos, trancados no sótão, tornando-se, um para outro, supressor de afeto e atenção, e companhia para atividades sociais diversas, como as de desenvolvimento intelectual. No filme, é comentado que durante o período em que ficaram presos, Thomas desenvolveu suas habilidades de inventor criando brinquedos para entreter sua irmã. Dessa forma é possível perceber que ambos exploraram seus primeiros impulsos sexuais um com o outro.


Uma outra questão que fomenta a não realização da castração é que, ao passar a desejar o afeto da irmã, Thomas deixa que ela tome decisões sobre seus desejos, como é esperado que uma mãe faça pelo filho quando este ainda não pode faze-lo sozinho. Ele passa a depender da aprovação da irmã até depois de adulto, deixando que esta escolha suas esposas e a forma como elas terminarão, e não permitindo, ainda, que ele mantenha relações sexuais com elas.


Entretanto, ambos sabem que a relação incestuosa não é aceita culturalmente. Primeiro, pelo julgamento da mãe, que é castigada por isso, sendo assassinada de forma cruel pela própria filha. O id de Lucille se sobrepõe ao ego ao impulsiona-la a atacar sua mãe para que ela não seja impedida de continuar realizando os impulsos sexuais que tem pelo irmão. Este ato também pode significar o rompimento final com os laços maternos e a concretização do complexo edipiano, pois se Lucille cuidava de seu irmão, ele não precisaria de outra mulher para zelar por ele, então ela toma definitivamente o lugar de sua mãe/objeto de desejo. Lucille, antes de matar sua mãe, também ocupa o lugar materno para a própria mãe ao ter que cuidar desta quando seu pai quebra a perna dela. Ou seja, o papel maternal é usurpado por ela duas vezes, primeiro de forma involuntária ao cuidar de sua mãe, depois de propósito ao matá-la.


Outra prova que eles recebem de que sua relação não é natural é dada pela própria natureza quando eles têm um filho juntos que não sobrevive. A morte de seu filho pode representar uma tomada de consciência por parte de Thomas, já que é depois deste acontecimento que ele conhece Edith e se aproxima dela apesar da não aprovação da irmã, que estranha seu interesse súbito por Edith. Talvez, de forma subconsciente, Thomas se interessa por Edith pois vê nela algo diferente, que poderia findar com os ciclos de assassinatos de suas esposas e tira-lo do domínio da irmã. De fato, Edith tem certo olhar investigativo e estranha a situação. Depois de ver os fantasmas das ex esposas de Thomas na mansão e perceber atitudes estranhas em Lucille, ela percebe que o local não é seguro para ela.


E mesmo se interessando verdadeiramente por Edith, Thomas ainda tenta manter um relacionamento com as duas mulheres. Provavelmente ele não consegue realizar a castração. Ele tem uma demanda por amor e atenção, e vê em uma a possibilidade da expressão de seu desejo materno, e na outra a expressão do desejo romântico e libertador, no sentido de liberta-lo da irmã. A necessidade de receber atenção de Edith pode provir do fato de que ela está investindo na máquina criado Thomas e acredita que ele pode ser bem-sucedido em sua criação, ao contrário de Lucille, que não crê mais no sonho do irmão e vê seu sucesso como algo a mais com o que dividir a atenção do irmão.


É perceptível, em Lucille, alguns mecanismos de defesa para justiçar a si mesma os assassinatos que comete. É possível que ela, ao propor ao irmão que se case para conseguir dinheiro, tivesse em mente apenas conseguir subsídios para manter a mansão em que moravam, mas a convivência com as esposas de seu irmão, desejosas por consumar seus casamentos, aflora em Lucille um certo ciúmes. Ao casar se, seu irmão obteria o dinheiro de qualquer forma, sem que nenhum crime precisasse ser cometido, porém Lucille prefere matar as conjugues de Thomas. Nota-se, então, traços de racionalização. Convencida de que é mais fácil obter o dinheiro através dos assassinatos, Lucille nega a obsessão e o sentimento de posse que tem pelo irmão, na verdade ela mata antes que Thomas se relacione sexualmente com as esposas justamente para que isso não precise acontecer.


1.3 – Conclusão


O relacionamento de Lucille e Thomas é revertido de uma sucessão de complexos mal resolvidos que resultam num vínculo incestuoso entre eles e uma série de assassinatos cometidos na intenção de manter a integridade desse vínculo. Isso fica claro ao observar o padrão de vítimas escolhido por Lucille, primeiro sua mãe e, em seguida, as esposas do irmão, excluindo este de qualquer ligação afetiva com outra mulher.

Fica claro, também, o comodismo de Thomas em relação ao comportamento da irmã ao se submeter aos desejos dela. Entretanto ele é levado a buscar formas de sair subordinação, procurando por outra mulher capaz de quebrar o vínculo que ele possui com a irmã.


Bibliografia


Rondas, Augusta. Psicanálise e educação: caminhos cruzáveis\ Augusta Rondas. – Brasília: Plano Editora, 2004.


FREUD, ANNA - O Ego e Os Mecanismos de Defesa, Ed.ArtMed (2006)



Destaque
Tags
Nenhum tag.
bottom of page