Uso de substâncias tóxicas e a teoria freudiana
Universidade de Brasília
Disciplina: Psicologia da Personalidade Turma: E
Professora: Elisa Walleska Krüger Costa
Al: Mariana Piauilino Caldeira 11/0150741
Introdução
A prática de substâncias psicoativas é difundida em todo o mundo, ocorrendo inclusive no Brasil. O uso de substancias tóxicas vem sendo usada há bastante tempo por diversos povos e culturas, em contextos diferentes ( C Ribeiro, 2009). Diversas condições, tanto do indivíduo que faz uso dela quanto do agente, no caso a substância, podem interferir no processo do uso abusivo destas. Esse uso abusivo pode ocorrer devido interferências externas, como fatores sócio-econômico e social, bem como fatores internos, a auto-imagem do indivíduo perante ao meio, por exemplo. Ao longo do texto será abordada a teoria psicanalítica, baseada em Freud, a respeito do uso de substâncias tóxicas.
Desenvolvimento
Freud não estudou a fundo o uso de substâncias tóxicas, porém, em suas obras, é possível observar momentos em que ele discursa sobre o tema (Mendonça, 2012). Tendo como base a visão psicanalítica de Freud, a utilização de substâncias tóxicas está relacionada como uma contra-reação por parte do indivíduo em relação ao meio em que vive, à insatisfação às ordens impostas sócio e culturalmente, bem como à sua própria constituição e formação psíquica (Freud, 1930). De acordo com a teoria freudiana, o desenvolvimento das civilizações impõe uma castração à sexualidade e à agressividade, ambas inerentes a qualquer ser humano (Mendonça, 2012). Com essa castração vinda da sociedade, o indivíduo passa a perceber a vida como árdua, frustrante. Objetivando diminuir ou amenizar a frustração ou sofrimento, utilizamos “medidas paliativas”, podendo ser classificados em três tipos diferentes: derivativos poderosos, distrações com a capacidade de fazer a insatisfação parecer menor; satisfações substitutivas, que diminuirão o sofrimento e as substâncias tóxicas (Mendonça,2012), assunto abordado neste trabalho.
De acordo com o exposto em sua obra, Freud afirma que recorrer ao uso de substâncias tóxicas seria a forma mais “interessante”, por se tratar de um método que atua diretamente no corpo humano (Mendonça,2012), tornando a existência menos dolorosa, por assim dizer. As substâncias tóxicas provocam dois efeitos simultâneos: geram sensações prazerosas e alteram a sensibilidade (Miranda & Faveret, 2011). Essa afirmativa é evidenciada ao se observar o trecho em que Freud fala que “quando presentes no sangue ou tecidos, provocam em nós, diretamente, sensações prazerosas, alterando tanto também as condições que dirigem nossa sensibilidade, que nos tornamos incapazes de receber impulsos desagradáveis (Freud, 1930-1996). Na teoria de Freud, podemos observar que existe uma satisfação que substitui o recalque e a renúncia pessoal (Mendonça,2012).
Outro fato seria que além das sensações de prazer e alteração da sensibilidade, o indivíduo tem a possibilidade de se refugiar em seu “próprio mundo”, estando totalmente à parte do mundo real e das pressões oriundas do mesmo ( Freud, 1929). O refúgio do mundo real ou externo como forma do indivíduo lidar ou deixar de lidar com as frustrações da vida acarreta em uma separação do mundo interno e externo, podendo causar a inabilidade do sujeito de encarar ou suportar a realidade (Naparstek, 2005). Em indivíduos que apresentam fixação pelo uso de narcóticos, o princípio de prazer é o que domina a vida do sujeito, fazendo com que recorra ao prazer proporcionado pelas substâncias de forma constante e muitas vezes, incessante, citados por Freud como compulsão à repetição e pulsão de morte ( Miranda & Faveret,2011).
Apesar da sensação de prazer ao se fazer uso destas substâncias, a pulsão de morte está ligada ao consumo. A droga , segundo Freud, seria um “amortecedor de preocupações”, buscando regular a satisfação através da compensação da satisfação sexual bem como minimizar seu mal-estar perante à civilização.
Conclusão
De acordo com Mendonça: “a substância tóxica na teoria freudiana é definida como um recurso através do qual o sujeito busca regular a satisfação pulsional tanto pela tentativa da restituição da satisfação sexual renunciada como pela busca de uma pacificação diante do mal-estar na civilização.”. O que é importante assinalar é que, diante de um contexto atual, onde a sociedade impõe um indivíduo modelo e que cada vez mais a exigência em torno do padrão, tanto social quanto econômico, aumenta, temos indivíduos profundamente afetados pela incessante busca de estar dentro de um padrão social e cultural, tornando-os insatisfeitos nos mais variados setores de suas vidas. Muitos destes sujeitos, procuram o distanciamento da realidade fazendo o uso de narcóticos, de forma metódica e incessante, criando uma dependência emocional, psíquica e química, incapacitando este ser de enfrentar e superar suas frustrações, decepções e de frear seus impulsos à procura de prazer.
Referências Bibliográficas
Freud, S. (1996). Sinopses dos escritos científicos do Dr. Sigm. Freud 1877- 97. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. (Jayme Salomão, trad., Vol. 3, pp. 221-229). Rio de Janeiro: Imago. (Texto originalmente publicado em 1897).
Freud, S. (1996). Moral sexual “civilizada” e doença nervosa moderna. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. (Jayme Salomão, trad., Vol. 9, pp. 169-186). Rio de Janeiro: Imago. (Texto originalmente publicado em 1908).
Freud, S. (1996). Além do princípio do prazer. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. (Jayme Salomão, trad., Vol. 18, pp. 17-75). Rio de Janeiro: Imago. (Texto originalmente publicado em 1916-1920).
Mendonça, J. A droga como um recurso ao mal-estar na civilização DOI 10.5752/P.1678-9563.2011v17n2p240. Psi. rev., v. 17, n. 2, 2012.
Naparstek, F. (2005). Introducción a la clínica con toxicomanias y alcoholismo. Buenos Aires: Grama.
Ribeiro, C. Que lugar para as drogas no sujeito? Que lugar para o sujeito nas drogas?: Uma leitura psicanalítica do fenômeno do uso de drogas na contemporaneidade. Ágora: Estudos em Teoria Psicanalítica, v. 12, n. 2, 2009