Freud: Psicanálise e o Feminino
Universidade de Brasília
Disciplina: Psicologia da Personalidade Turma: B
Professora: Elisa Walleska Krüger Costa
Aluno(a): Amanda Nunes Campos Matrícula: 11/0107276
Sigmund Freud, neurologista Austríaco, revolucionou a ciência ao estudar o
desenvolvimento sexual de crianças como forma de compreender as características psíquicas do ser humano. Dessa forma, interpretou os modelos de sexualidade como estruturas psíquicas inatas e não como estruturas sociais aprendidas e interiorizadas. Por meio de sua teoria do complexo de Édipo e de uma superação correta da mesma, Freud supõe um estabelecimento normalizado da personalidade feminina e masculina.
De acordo com essa teoria existem uma série de etapas a serem experimentadas pelo individuo quando criança. O paradigma de sua situação na família, para um garoto, corresponde ao desejo de matar o pai e deitar-se com a mãe como na tragédia de Sófocles. Esse desejo incestuoso, por sua vez, faz surgir o temor da castração e o reconhecimento do poder fálico do pai. Assim, o garoto tenderá a não rivalizar mais com o pai e sim identificar-se com ele, aceitando sua superioridade e internalizando as normas que o proíbem de ter a mãe. Sua sexualidade, então, entra em uma etapa de latência e volta à tona durante a puberdade.
Para a garota, por sua vez, a experiência é distinta: esta não terá que temer a castração visto que já é castrada. O paradigma inicial de sua situação na família, quando ela ainda é tão masculina quanto um garoto, se assemelha ao dele tendo também a mãe como primeiro objeto de afeição. Contudo, neste momento o clitóris rege sua sexualidade como um pênis atrofiado e ela logo adquire a percepção de seu estado de castração. A partir desse momento, Freud apresenta três possibilidades que podem vir a ocorrer.
A primeira refere-se à garota que adota uma posição passiva e renuncia à sua sexualidade. A segunda, por sua vez, refere-se à potencialidade de narcisismo da garota com a não aceitação de sua inferioridade e a retenção de uma masculinidade ameaçada; o que sustentará a noção de mulher fálica. A terceira, diz respeito à maneira pela qual a garota torna-se mulher. Intitulada como a forma “correta”, é uma trajetória que pressupõe uma mudança da zona erógena do clitóris para a vagina e o afastamento da mãe em nome do desejo pelo pai. Sendo vista como a única possibilidade normal, Freud aponta que as outras podem levar a neuroses e a frigidez.
As diferentes experiências de superação corretas vividas pela garota e pelo garoto acarretam na formação de um Superego também diferenciado. O garoto vive um processo angustiante, onde o medo de ser castrado o impulsiona a reprimir fortemente seu desejo e implica na formação de um Superego forte. A garota, por outro lado, por se sentir castrada, não precisa vivenciar uma batalha tão severa com seu impulso incestuoso e acaba desenvolvendo um Superego não tão forte. O que, para Freud, causa uma falta de senso de justiça e consciência; e converge em uma diferenciação de aptidões inatas para o garoto e para a garota. Essa visão parece contradizer sua teoria da bissexualidade.
Uma vez percorrida toda essa trajetória a atitude feminina mais normal seria o desejo de um filho, o que não advém da identificação com a feminilidade ou com a maternidade em si. E sim da inveja do pênis que, como é algo que não pode ser mudado, acaba por ser substituído pelo desejo de ter um bebê, especialmente um garoto – o que permite que a mãe venha a obter o pênis que não possui.
A descrição de Freud a cerca das diferenças anatômicas não se restringe somente a esse plano. Ele faz um juízo de valor que resulta em relações de superioridade e inferioridade. A mulher, vista por Freud, nada mais é que um homem atrofiado, um ser imperfeito, incompleto. Estaria Freud correto? Parece-me que essa teoria cria um fundamento para que o sistema patriarcal continue justificando a desigualdade de gênero. Penso que a mulher não deveria ser entendida como parte incompleta de outro ser, mas sim como um ser pleno em sua unicidade e diferença. Melhor seria uma análise que a tenha como fator principal, fora da sombra masculina.
Referências bibliográficas:
Beauvoir, Simone (1977) O segundo sexo.
Millet, Kate (1975) Política sexual. México, Aguilar
Freud, Sigmund (1986) “Sobre la sexualidad femenina”. Em: Obras completas. Volume XXI: El porvenir de una ilusión, El malestar en la cultura, y otras obras (1927-1931).