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Da Neurose Obsessiva de Sigmund Freud ao Transtorno Obsessivo Compulsivo

Universidade de Brasília

Disciplina: Psicologia da Personalidade Turma: E

Professora: Elisa Walleska Krüger Costa

Aluno: Letícia Batista Merêncio de Lima Matrícula: 12/0035561

  1. INTRODUÇÃO



Ficar aflito por objetos que não estão aonde deveriam estar ou quando as roupas não estão bem organizadas no guarda-roupa, medos exagerados de se contaminar, lavar as mãos a todo instante, não pisar ou andar em certos lugares por medo de alguma coisa ruim que possa acontecer depois são alguns exemplos bem característicos dos sintomas de um transtorno chamado: transtorno obsessivo compulsivo mais conhecido como TOC ou “manias exageradas”. O transtorno obsessivo compulsivo é caracterizado pela presença de compulsões e/ou obsessões, e que acaba gerando nas pessoas que sofrem da doença um aprisionamento por um ou mais tipos de padrão de pensamentos e comportamentos repetitivos que não sentido, tornam-se extremamente desagradáveis e em alguns casos quase impossível de evitar. O quadro clínico pode ser leve e imperceptível ou grave, podendo impossibilitar e incapacitar a pessoa para o trabalho e até relacionar-se com outras pessoas. A neurose obsessiva descrita por Sigmund Freud contribuiu fortemente para a construção da teoria psicanalítica, que concluiu sobre os aspectos fundamentais do funcionamento psíquico. Freud foi um dos pioneiros em propor modelos explicativos para a gênese do TOC, que pode ser encontrado em um dos seus casos mais conhecidos “O Homem dos Ratos” (1909).



Obsessões e compulsões, o que são?


Obsessões podem ser definidas como pensamentos, ideias, imagens, impulsos e com uma classificação geral como eventos mentais, experimentos pelo individuo como intrusos e desagradáveis que surgem na consciência contra a sua vontade. O produto das obsessões podem ser cenas, músicas, frases, palavras, imagens, preocupações, memórias, medos etc. que o indivíduo acaba por tentar afastar ou suprimir, mas sem êxito. Causam medo, ansiedade ou desconforto e acabam por interferir, dependendo do quadro clínico com maior ou menos intensidade, na rotina e no cotidiano, trabalho, comportamento e relações sociais. As obsessões mais comuns encontradas são: medo de contaminação ou de germes/sujeira, preocupação se objetos estão alinhados de maneira “perfeita” ou simétrica, guardar coisas sem utilidade, pensamentos impróprios, impulsos ou imagens desagradáveis e perturbadoras de conteúdo violento, agressivo ou sexual, pensamentos supersticiosos para cores, números, datas, locais etc. vale lembrar que obsessões não estão apenas presentes no transtorno obsessivo compulsivo, outras doenças também apresentam obsessões diversificada e de outras naturezas, como por exemplo, nos transtornos alimentares e transtornos de impulsos.


Compulsões são definidas como comportamentos ou atos mentais repetitivos, realizados para diminuir o incômodo ou a ansiedade causados pelas obsessões ou para evitar que uma situação temida venha a ocorrer.1 O indivíduo se sente compelido ou “obrigado” a executar para tentar diminuir ou eliminar a ansiedade ou o desconforto gerado a partir das obsessões, são comportamentos excessivos aos quais não se consegue na maioria das vezes resistir. Exemplos de compulsões são lavar as mãos repetidas vezes, verificar repetidamente porta, fogão, janelas, tomadas, eletrodomésticos até eliminar a dúvida e ter certeza do ato, alinhar objetos ou roupas, armazenar coisas sem alguma utilidade, sair e entrar, sentar e levantar etc. Como foi descrito em obsessões, compulsões não são exclusivas do TOC, outros transtornos como alimentação compulsiva, uso de drogas e álcool são exemplos em que se faz presente, no entanto com o objetivo de se buscar o prazer e a satisfação e não por razões de medo ou ameaça.



Transtorno obsessivo compulsivo – “O homem dos ratos” (Freud, 1909)


Em “O Homem dos ratos” Freud (1909) tratou de um jovem, e procurou formular a partir de um estudo de caso, uma possível explicação sobre o transtorno obsessivo compulsivo. Segundo sua teoria, Freud diz que a neurose se origina de conflitos internos e inconscientes mal resolvidos, situados na fase anal-sádico do desenvolvimento psicossexual. Em seu trabalho, foi feita uma descrição minuciosa de compulsões e obsessões que seu paciente apresentava, buscando interpreta-los conforme sua teoria. A fase anal-sádico, segunda fase do desenvolvimento libidinal, que está presente por volta dos dois anos de vida, em que a zona anal é a principal fonte/foco de prazer e excitação produzida pela defecação. Freud afirmou que o erotismo anal domina a organização sexual do neurótico obsessivo, e que a obsessão esta relacionada com regressão sexual no estágio anal, tendo como argumento e sustentação inconsciente, um forte sentimento de ódio suprimido. O relato do caso foi feito a partir dos registros originais das sessões, que Freud fez da primeira parte do tratamento de Ernst Lanzer, cujo tratamento durou cerca de um ano e que culminou no restabelecimento completo da personalidade de Ernst. O paciente apresentou queixa de obsessões desde sua infância, sofrendo de temores de que algo pudesse acontecer ao seu pai e a uma jovem ao qual admirava além de ter consciência de impulsos compulsivos como cortar a garganta com uma navalha. A denominação de “Homem dos ratos” surgiu de uma experiência que antecedeu a primeira consulta. Um oficial descrevera uma forma de tortura ao jovem que muito lhe interessou, em que o prisioneiro ficava amarrado e sentado nu em uma recipiente com ratos, que buscavam uma saída pelo seu anus. Tal pensamento obsessivo não saia da sua cabeça causando-lhe grande aflição.


A análise de Freud sobre o caso do jovem Ernst concentrou-se principalmente no seu pai e na jovem que gostava, o símbolo do rato levou a uma serie de associações, incluindo: erotismo anal, o espancamento pelo pai aos 4 anos por ter mordido uma pessoa e a raiva suprimida ao longo do tempo e a lembrança de excitações anais quando o jovem expelia lombrigas. Após um ano de tratamento o jovem foi curado e “o delírio dos ratos desapareceu”.



A terapia cognitivo-comportamental no tratamento dos diferentes sintomas do TOC


Segundo a Organização Mundial de Saúde, o TOC está entre as dez maiores causas de incapacitação, acometendo principalmente jovens que estão no final do período da adolescência e na infância, raramente observado seu início após os 40 anos. Para diagnóstico do TOC, além das obsessões e compulsões, essas devem consumir grande parte do seu tempo, causando ao indivíduo sofrimento, constrangimento e incapacitação de trabalho em alguns casos, interferindo na rotina e no cotidiano, no funcionamento ocupacional (ou acadêmico), relacionamentos familiares e sociais. Na terapia cognitivo-comportamental, o indivíduo elabora uma lista com seus sintomas, identificando: obsessões, compulsões e como evitar, e com o auxilio do terapeuta são combinados exercícios graduais para serem praticados, além de técnicas que auxiliem a corrigir suas incertezas e crenças sem sentidos, passa a usa-las ao mesmo tempo que pratica os exercícios. Pode ser acompanhado também do uso de medicamentos.



Psicanálise Freudiana e os adventos da modernidade: Uma abordagem crítico-reflexiva


Pouca diferenciação podemos encontrar na descrição da neurose obsessiva de Sigmund Freud (evidenciada no caso “O Homem dos Ratos”, 1909) e o que a psiquiatria moderna classifica como Transtorno Obsessivo Compulsivo. Do meu ponto de vista, cabe ao profissional aliar todas as formas de intervenções possíveis que mais se encaixem aos sintomas do paciente e que melhorem sua qualidade de vida. Com o advento dos medicamentos (concordo se não houver efeitos colaterais) e da terapia cognitivo-comportamental, questiona-se a “eficácia” da psicanálise, por ser uma modalidade de intervenção que na grande maioria dos casos demanda maior período de tempo para que cessem os sintomas.Voltando a falar sobre a origem do TOC, acredito que a maior parcela de culpa seja atribuída a fatores de origem biológica como predisposição genética e a disfunções cerebrais de algumas pessoas, não atribuindo a grande responsabilidade aos conflitos internos e inconscientes presentes durante a fase anal-sádico do desenvolvimento psicossexual como afirma a teoria Freudiana, porém sem descartar a hipótese de existência da teoria. Sobre a neurose obsessiva, Freud afirma que a regressão à fase anal-sádico ocorre no momento de conflito psíquico caracterizado pela ambivalência em sua relação com o(s) objeto(s), consequentemente ideias dicotômicas expressam constante indecisão, paralisando o indivíduo e o impedindo de fazer escolhas.

Estudos apontam para o neurotransmissor serotonina, envolvido na comunicação entre os neurônios e que permite um constante troca de informações entre o meio externo e interno, como crítico na expressão dos sintomas do transtorno. Hoje ainda não temos teorias que expliquem os transtornos mentais, estudos e pesquisas estão sendo desenvolvidas para explicar a(s) origem(s) definitiva(s) do TOC. Deixemos para que a comunidade científica nos responda a essas dúvidas.



Referências

  1. Freud, Sigmund. Notas sobre um caso de neurose obsessiva (o homem dos ratos). Imago, 1998.

  2. American Psychiatric Association. Diagnostic and statistical manual of mental disorders. Fourth edition. Washington (DC): American Psychiatry Press; 1994.

  3. ROSARIO-CAMPOS, Maria Conceição do; MERCADANTE, Marcos T. Transtorno obsessivo-compulsivo.Rev. Bras. Psiquiatr., São Paulo , v. 22, supl. 2, p. 16-19, Dec. 2000 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462000000600005&lng=en&nrm=iso>. access on 04 Nov. 2015. http://dx.doi.org/10.1590/S1516-44462000000600005

  4. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Volume X (1909): Duas Histórias Clínicas (O "Pequeno Hans" e o "Homem dos Ratos"). Imago Editora Ltda, Rio de Janeiro


Sites

  1. https://psicologado.com/abordagens/psicanalise/introducao-ao-conceito-de-neurose-obsessiva

  2. http://www.astoc.org.br/source/php/021.php

  3. http://www.ufrgs.br/toc/index.php/sobre-o-toc/5-o-que-e-o-toc-e-quais-sao-os-seus-sintomas.html

  4. http://www.ufrgs.br/toc/images/profissional/material_didatico/fatores_psicologicos_na_genese_e_na_manutencao_do_TOC.pdf

  5. http://www.redepsi.com.br/2007/11/04/neurose-obsessiva-e-transtorno-obsessivo-compulsivo-toc/ http://www.ufrgs.br/toc/images/profissional/material_didatico/FREUD%20e%20o%20Homem%20dos%20Ratos.pdf

  6. http://www.ufrgs.br/toc/

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