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Arte e Psicologia: um diálogo possível

  • Amanda de Souza Xavier
  • 5 de nov. de 2015
  • 6 min de leitura

Universidade de Brasília – UnB Instituto de Psicologia – IP Departamento de Psicologia Clínica – PCL Psicologia da Personalidade 1 – Turma B Profa Dra. Elisa Walleska Kruger Alves da Costa Aluna: Amanda de Souza Xavier – Matrícula: 130005177 ARTE E PSICOLOGIA: UM DIÁLOGO POSSÍVEL

Resumo O artigo em questão trata em expor a intertextualidade presente nos âmbitos Arte-Psicologia, assim como a sua aplicação prática em sociedade. A fim de fomentar a discussão sobre os tópicos abarcados, buscamos abordar os pontos de maior relevância dos trabalhos de Carl Gustav Jung a esse respeito, um dos principais teóricos da Psicologia Analítica. No que se refere à Psicologia da Arte, podemos citar o volume XV dos Collected Works de Jung, The Spirit in Man, Art and Literature – que contém os ensaios "Relação da Psicologia Analítica Com a Obra de Arte Poética", de 1922, "Psicologia e Literatura”, de 1930, e os artigos sobre Ulisses, de Joyce, e sobre Picasso, ambos de 1932. Temos como objetivo que, ao final do presente estudo, o leitor seja capaz de compreender a importância da análise da dinâmica artística do ponto de vista psicológico, a relação Homem-obra de arte, a propriedade terapêutica da Arte e a sua funcionalidade na psicoterapia e o embate quanto ao objeto de estudo da Psicologia da Arte como vertente científica.

Palavras-chave: Psicologia. Arte. Artigo Científico. Psicoterapia. Arteterapia. Jung.

Introdução A Arte está presente na história da humanidade desde os tempos mais remotos. “A arte é quase tão antiga quanto o homem” (Fischer 1971, p. 21). Ela é detentora de diversos papéis de função social. O processo de produção artística, além de mediar um jogo de relações simultâneas entre o consciente e o inconsciente, importante para o estudo psicológico, propicia ao indivíduo visitar os recônditos do seu eu interior e aguçar a sua percepção de mundo e de si mesmo. Foi a propriedade catártica da Arte e a sua funcionalidade como meio de expressão humana que permitiu que ela começasse a ser explorada como alternativa terapêutica no contexto do pós-guerra. Na Inglaterra, com o intuito de reabilitar os indivíduos traumatizados pela guerra, vários profissionais das áreas de Ciências Sociais, Psicologia, Arte e Pedagogia tiveram a iniciativa de investirem na junção de seus conhecimentos e da psicologia analítica de Jung para chegarem a uma alternativa no tratamento dos pacientes, arrasados em gravidade física e emocional. Os resultados foram tão promissores que, puderam, enfim, serem reajustados à vida em sociedade com um sucesso maior do que antes se esperava. A partir deste momento, essa prática evoluiu para uma modalidade acadêmica interdisciplinar, hoje conhecida por Arteterapia. As intersecções Arte-Psicologia, para Jung, eram um campo rico em pesquisa. Ao longo de sua vida, ele demonstrou sempre um grande interesse pelo estudo da diversidade das culturas e da história da arte, que se dava em razão do cerne de seu trabalho: a realidade simbólica do imaginário psíquico. Sobre a Arte e a Psicologia, ele escreveu:

“Apesar de sua incomensurabilidade, existe uma estreita conexão entre esses dois campos que pede uma análise direta. Essa relação baseia-se no fato de a arte, em sua manifestação, ser uma atividade psicológica e, como tal, pode e deve ser submetida a considerações de cunho psicológico; pois, sob este aspecto, ela, como toda atividade humana oriunda de causas psicológicas, é objeto da psicologia” (Jung, 1971, p.54).

1 Psicologia da Arte A Psicologia da Arte pode ser definida como a área da Psicologia que tem como finalidade descrever e explicar a experiência psicológica e os comportamentos referentes à arte, sobretudo ao nível da apreciação e da criação artística, mas também no que diz respeito à relação dos artistas com o seu público, à execução artística, à crítica de arte e às próprias obras de arte. Tem como objeto de estudo os estímulos visuais que a contemplação da arte gera ao indivíduo, como e por que são desencadeados, de que maneira chegam a nós, como atuam, como se modificam e como são dirigidos ao cérebro, que os processa.

A princípio, entendia-se que essa ciência social teria a sua utilidade na interpretação de tudo aquilo que o artista projetasse na obra, ou seja, o estudo da obra de arte como a representação do seu inconsciente. Seguindo essa linha de raciocínio, a Psicologia da Arte, então, se disporia a analisar os impulsos por trás da personalidade do artista e do seu subconsciente, a fim de decifrá-lo e explicar o que o teria motivado. No entanto, ao se lidar com aspectos tão abstratos e subjetivos, essa finalidade de pesquisa acabava, de uma maneira ou de outra, fadada ao fracasso, uma vez que a ausência de métodos científicos (objetivos) lhe negava qualquer embasamento.

Não se podia presumir as razões pelas quais um pintor, por exemplo, se decidira por tinta vermelha para concluir seu quadro, se por razões de ordem psíquica ou emocional ou se simplesmente pelo fato de ser a única cor que lhe restara. Embora a primeira hipótese tenha cabimento e constitua um profundo campo de estudo, carecia-lhe de bases científicas. Dessa maneira, as obras de arte não podem servir de alvo na terapia, mas de suporte para atender ao diálogo verbal, ou nos casos em a maneira única de estabelecimento de uma comunicação é pela expressão artística.

"Uma obra de arte é o fruto de um complexo sistema de inter-relações que aplicam, para a sua conformação, factores de ordem psíquica e emocional, mas também de ordem prática, e de cariz cultural e sociológico. O ser humano é uma entidade comprometida com a sua individualidade (fenômeno indesmentível) mas também com o mundo, nas suas múltiplas disposições: culturais, religiosas, sociais, políticas, ideológicas etc. E todas as obras que se produzem pelo homem, artísticas ou não-artísticas, são enformadas neste vasto e complexo contexto de ininterruptas relações" (Fonte: Universidade Aberta de Portugal).

Antes de mais nada, deve-se compreender que todas as obras, com ou sem pretensão artística, são equivalentes a estímulos desencadeantes, que ficam à disposição dos sentidos a receptá-los. A Psicologia da Arte, portanto, tem seu objeto de estudo imbuído na compreensão e definição do conceito de obra de arte, no que determina que algo constitui-se ou não como artístico; interessa-se pelo estímulo que o respectivo objeto ou imagem desencadeia no receptor e como se dá o processo de estímulo-resposta; pelo fato de um objeto poder reproduzir, num indivíduo, uma emoção "a" e, no outro, uma emoção "b". A Psicologia da Arte preocupa-se, então, com os processos psicológicos envolvidos tanto na reação às

obras de arte como na sua criação. 2 Arteterapia Entende-se por Arteterapia o método de tratamento que, voltado para o desenvolvimento pessoal do paciente, busca integrar na psicoterapia tanto os elementos de ordem psicológica como os elementos de mediação artística. É na interação entre o paciente (criador), a obra de arte (criação) e o psicoterapeuta (receptor) que se forja o cerne da integração interdisciplinar. Nas sessões, o psicólogo recorrerá a recursos tais como metáforas, simbolismos e imaginação, que visam sempre o crescimento pessoal e a expressão criativa do sujeito em tratamento. Essas características da modalidade de Arteterapia são o que facilitam a comunicação entre ambos e que permitem o aprofundamento interno do paciente.

É de suma importância estar ciente de que a prática da Arteterapia, tanto na posição de psicoterapeuta quanto para quem está em tratamento, não exige talento artístico. A necessidade pela Arte é uma característica inerente ao ser humano e, aqui, a criatividade é entendida como universal e não só a alguns indivíduos seletos.

Por fim, estipula-se que são ditas artes-terapias todas aquelas intervenções psicoterapêuticas que fizerem uso dos seguintes mediadores: pintura, desenho, modelagem, escultura, colagens, drama e jogos dramáticos, marionetes, jogo de areia, expressão corporal, música, canto, poesia, escrita livre criativa e contos. A apreensão do fenômeno psicológico na Arteterapia deverá considerar os âmbitos afetivo-relacional, existencial e cognitivo.

Conforme Philippini (2000), a arteterapia resgata a promoção, a prevenção e a expansão da saúde. A arteterapia auxilia a resgatar desbloquear e fortalecer potenciais criativos, através de formas de expressão diversas, ademais facilita que cada um encontre, comunique e expanda a seu próprio caminho criativo e singular, favorecendo a expressão, a revelação e o reconhecimento do mundo interno e inconsciente. Destaca ainda, que em arteterapia com abordagem Junguiana, o caminho será fornecer suportes materiais adequados para que a energia psíquica plasme símbolos em criações diversas. Estas produções simbólicas retratam múltiplos estágios da psique, ativando e realizando a comunicação entre inconsciente e consciente. Este processo colabora para a compreensão e resolução de estados afetivos conflitivos, favorecendo a estruturação e expansão da personalidade através do processo criativo. Considerações finais Procurou-se demonstrar neste ensaio, em termos gerais, os principais conceitos e problemáticas dentro do que é chamado de Psicologia da Arte; o panorama histórico da Arteterapia e sua funcionalidade e a relevância da obra de C. G. Jung na trajetória do que, hoje, podemos reconhecer como uma intertextualidade possível entre a Arte e a Psicologia.

Referências A Psicologia da Arte, Acesso em: https://grupopapeando.wordpress.com/2008/11/06/a-psicologia-da-arte/

Mostra Bibliográfica sobre Psicologia da Arte, Acesso em: http://www.ie.ulisboa.pt/pls/portal/docs/1/301619.PDF Âmbito da Arteterapia do Ponto de Vista da SPAT, Acesso em: http://arte-terapia.com/o-que-e-arte-terapia/

Histórico da Arteterapia, Acesso em: http://www.aartes.net/pgn/7385/sobre-arteterapia-historico-da-arteterapia/

Perspectivas Psicológicas de Jung sobre as Ciências e a Arte, Acesso em: http://ijusp.org.br/artigos/perspectivas-psicologicas-de-jung-sobre-as-ciencias-e-a-arte/

O que é a Arteterapia de Abordagem Junguiana, Acesso em: https://psiqueobjetiva.wordpress.com/2012/09/03/o-que-e-a-arteterapia-de-abordagem-junguiana/

Jung, Junguianos e Arte: Uma Breve Apreciação, Acesso em: http://www.proposicoes.fe.unicamp.br/proposicoes/textos/43-dossie-barcellosg.pdf


 
 
 

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