Depressão e a Melancolia Freudiana
Universidade de Brasília
Disciplina: Psicologia da Personalidade Turma: E
Professora: Elisa Walleska Krüger Costa
Aluno: Lucas Bohrer de Oliveira Matrícula: 12/0126036
Introdução
Depressão é uma doença psiquiátrica que afeta negativamente o estado de humor da pessoa; aonde tristeza, baixa autoestima, pessimismo, angústia, desesperança, amargura e culpa, dentre outros, acontecem, frequentemente, de forma isolada ou combinada, podendo gerar, inclusive, a ideia do suicídio. Existe uma predisposição genética para a depressão, mas isso não significa que a doença só ocorra em quem a tem e nem que todos que possuam essa predisposição tenham a doença. Os mais diversos fatores podem ser causa ou consequência da depressão, tais como estresse psicológico e físico, acontecimentos traumáticos, uso de drogas, lesões graves, doenças sistêmicas, rejeição, ‘bullying’ e muito mais; porém apresentar esses fatores não significa que a depressão ocorra necessariamente, uma vez que ela é caracterizada por quadros de crise aonde o humor permanece deprimido na maior parte do tempo, uma tristeza patológica, e pela dificuldade em superar problemas que entristecem a pessoa; às vezes não existe causa aparente para uma crise depressiva. Pode-se associá-la ao desequilíbrio de substâncias químicas, como serotonina, noradrenalina e até dopamina, e a função principal dos antidepressivos é regular essas substâncias. É uma doença que pode ocorrer em qualquer pessoa, mas as mulheres se tornam mais vulneráveis a ela devido à oscilação hormonal.
Sigismund Schlomo Freud, ou simplesmente Freud, foi um médico neurologista, criador da psicanálise. Nascido no antigo império Austro-Húngaro em 1856 e morto em Londres no ano de 1939 em decorrência de cancro no palato. Ele possui várias obras reconhecidas, algumas muito polêmicas, desde a época delas, até os dias atuais. Uma dessas é ‘Luto e Melancolia’, escrita em 1915 e publicada em 1917, nesta obra Freud descreve os sintomas decorrentes do luto e da melancolia, que era como ele caracterizava a depressão, e os diferencia. Como ele define que o luto é uma reação esperada devido a uma perda específica e que é superado com o tempo, como, por exemplo, a tristeza passageira que é decorrente da perda de um ente querido, caracterizando algo diferente da depressão; o foco será a definição de melancolia que ele descreve em sua obra. Mesmo em um texto tão antigo, podemos perceber vários pontos em comum entre a definição freudiana de melancolia e a definição atual de depressão, inclusive com a definição de depressão maior do DSM-IV TR ser semelhante à definição de melancolia de Freud.
As decorrências da Depressão
A partir do conhecimento inicial sobre a depressão, existem muitos outros fatores a se observar sobre esta doença. Ela é uma doença incapacitante, e apresenta os mais diversos quadros, com durações e intensidades diferentes e que levam a três graus, o leve, o moderado e o grave. Porém, antes de se diagnosticá-la é bem difícil a pessoa reconhecer os sintomas e ir atrás de um especialista, uma vez que a maioria tem aquele pensamento de “não é nada, depois passa” e mesmo os que reconhecem que podem ser sintomas de depressão, tem aquele medo de ir atrás de ajuda por causa da famosa e falsa frase “psicólogo é coisa de louco”, temendo o que os outros podem falar. Até mesmo pessoas que apresentam tendências suicidas apresentam dificuldade em procurar ajuda, por isso é importante que família e amigos próximos estejam atentos e busquem ajuda quando for necessário.
Como afirmado anteriormente, para que ocorra um diagnóstico correto da doença é preciso considerar o tempo de duração dos sintomas, ao menos duas semanas, e a quantidade deles, pelo menos quatro. Nos casos de grau leve, o tratamento indicado e que geralmente surte o efeito esperado é a psicoterapia, já nos casos de grau grave, é necessária a ação de antidepressivos prescritos pelo psiquiatra, e alguns destes casos exigem outros medicamentos, como ansiolíticos e antipsicóticos; e nos de grau moderado depende bastante da forma como a doença está atrapalhando a vida da pessoa em todos os sentidos. Nem sempre é fácil escolher o antidepressivo correto, dependendo do caso não existe um indicado e as vezes o que seria melhor produz efeitos colaterais que não são toleráveis para a pessoa. Não existe uma cura para a depressão, mas a psicoterapia e os antidepressivos, na dose indicada, ajudam a prevenir crises e a controla-las, sendo altamente recomendados para quem sofre com esse mal.
Essa doença é cruel, paralisante e dolorosa, e faz com que o doente precise de ajuda para realizar as tarefas mais banais, como pentear o cabelo, ela transforma essas atividades simples nas coisas mais difíceis do mundo, drenando a energia vital da pessoa. Uma das partes mais complicadas do quadro é o preconceito que existe, principalmente entre os mais próximos. Eles julgam sem nenhuma misericórdia e taxam os doentes de inúteis, de preguiçosas, e quando conseguem reagir e fazer algo, não é o suficiente e essas pessoas falam para fazer mais, para deixar de besteira e seguir em frente. Como se não bastassem todos os sintomas e consequências da doença, ainda existe esse julgamento errado e que dificulta mais ainda as coisas para o depressivo, pois as pessoas que deveriam estar lá para dar suporte, para ajudar, na verdade só estão piorando o quadro com seus preconceitos e falta de informação sobre o assunto.
A depressão tem várias consequências, como isolamento, alterações no tempo ideal de sono, alimentação precária, sentimento de inutilidade, se sentir um fardo para os outros, insegurança, falta de motivação, desinteresse, automutilação e muitos outros. Contudo, a principal consequência é o suicídio, os pensamentos suicidas surgem por causa dos fatores supracitados, e a pessoa começa a pensar que talvez o suicídio seja a melhor alternativa, como os esforços e os incentivos falham, a desistência parece ser o melhor caminho, pois assim ela se libertaria do sofrimento, que a faz sentir-se inútil, e também do peso que ela acha que representa para os outros. Tudo isso faz com que a depressão seja uma das principais causas do suicídio, principalmente em pessoas solitárias, o que se torna um pouco irônico, pois a própria doença acaba distanciando o deprimido das outras pessoas.
Existem estudos recentes que relacionam o bem-estar físico e o mental, a partir destes estudos é possível afirmar que outro fator negativo decorrente da depressão seria a contribuição que ela tem com problemas físicos. Uma pessoa depressiva é mais propensa a ter outra doença do que uma pessoa que não sofre de depressão. Como existe uma conexão forte entre o sistema cognitivo e o imunológico, em uma situação aonde a mente não está funcionando bem, ela acaba atacando o próprio corpo e potencializando ataques exteriores, enfraquecendo o sistema imunológico e tornando a pessoa mais vulnerável a outras doenças.
Depressão e a Melancolia de Freud
Dito tudo isso acerca da depressão, podemos relacioná-la com a melancolia descrita por Freud no início do século XX, para isso, vamos utilizar alguns trechos de sua obra ‘Luto e Melancolia’: “Os traços mentais distintivos da melancolia são um desânimo profundamente penoso, a cessação de interesse pelo mundo externo, a perda da capacidade de amar, a inibição de toda e qualquer atividade, e uma diminuição dos sentimentos de autoestima a ponto de encontrar expressão em auto recriminação e auto envilecimento, culminando numa expectativa delirante de punição”. Este trecho caracteriza a melancolia da mesma forma como a depressão é caracterizada hoje em dia, inclusive falando de auto recriminação e de uma punição delirante, em claras referências à automutilação e ao suicídio.
Outro trecho de sua obra é: “O melancólico exibe ainda outra coisa que está ausente no luto — uma diminuição extraordinária de sua autoestima, um empobrecimento de seu ego em grande escala. No luto, é o mundo que se torna pobre e vazio; na melancolia, é o próprio ego.” Neste trecho é perceptível a relação entre o melancólico e o depressivo, ao falar sobre a autoestima baixa e sobre o empobrecimento do ego, que é o sistema de equilíbrio da pessoa que regula o id e o superego, a verdadeira personalidade.
Freud também disse nessa obra: “O paciente representa seu ego para nós como sendo desprovido de valor, incapaz de qualquer realização e moralmente desprezível… Esse quadro de um delírio de inferioridade (principalmente moral) é completado pela insônia e pela recusa a se alimentar, e o que é psicologicamente notável por uma superação do instinto que compele todo ser vivo a se apegar à vida.” De novo existe uma relação muito clara entre a melancolia freudiana e a depressão do mundo moderno, ele cita os problemas no sono e também a inexistência da vontade de se alimentar como fatores críticos, pois são completamente opostos ao instinto humano de sobrevivência. A única observação a ser feita, é que atualmente o problema alimentar, nas pessoas depressivas, pode ser expresso de duas formas; ou a falta de alimentação propriamente dita, ou comer só o que faz mal para o nosso corpo, o que engorda, mas que é saboroso e dá uma falsa sensação de prazer, como se desse um sinal para o corpo de que pelo menos uma coisa está boa.
Também existem mais relações entre as definições entre os termos. Freud afirma que, na melancolia, nem sempre a pessoa sabe o que está puxando-a para baixo, algo bem claro no conceito da depressão também. Além disso, afirma que o melancólico possui um sentimento ruim acerca dele mesmo, se acha inferior aos outros, assim como o depressivo; a pessoa sente que não é boa que não merece amor, características básicas da auto depreciação, do auto lamento, e da auto recriminação.
Na psicanálise, Freud explica que o ego, o superego e o id estão sempre em conflito, e ele deixa claro que este conflito é mais intenso no melancólico e, por consequência no depressivo a partir deste trecho: “Detenhamo-nos um pouco no conceito que a perturbação do melancólico oferece a respeito da constituição do ego humano. Vemos como nele uma parte do ego se coloca contra a outra, julga-a criticamente.” Em outro trecho, Freud deixa claro que a preocupação principal da melancolia é com a auto avaliação com o que a pessoa pensa dela mesma, mais uma semelhança com o depressivo: “No quadro clínico da melancolia, a insatisfação com o ego constitui, por motivos de ordem moral, a característica mais marcante. Frequentemente, a auto avaliação do paciente se preocupa muito menos com a enfermidade do corpo, a feiura ou a fraqueza, ou com a inferioridade social; quanto a essa categoria, somente seu temor da pobreza e as afirmações de que vai ficar pobre ocupam posição proeminente.”.
Reflexão Crítica
Além de tudo isso, Freud ainda afirma que o fato de apresentarem autoestima baixa e de se criticarem duramente, tem a ver com uma mudança de foco, aonde o paciente melancólico projeta nele coisas de pessoas próximas, que ama ou amou, pois prefere se auto depreciar a falar mal de uma pessoa pela qual nutre fortes emoções; esta característica também está presente na depressão, o que só corrobora todas as semelhanças aqui demonstradas.
Dito tudo isso, podemos ver que mesmo com cem anos de diferença entre a escrita de sua obra ‘Luto e Melancolia’ e os dias de hoje, Freud conseguiu enxergar, discutir, problematizar, avaliar e discernir o que era a depressão, mesmo utilizando o termo melancolia, é nítida a concordância entre o que ele afirmou sobre melancolia, tanto quanto aos sintomas, quanto às consequências, quanto às atitudes que os pacientes tinham e o que temos hoje acerca da depressão e das pessoas que sofrem com essa doença. Freud realmente estava à frente do seu tempo, e mesmo com o passar dos anos, as teorias e obras dele ainda se encaixam no presente. A doença mais comum da atualidade é perfeitamente descrita por ele, mas no ano de 1915.
Basta a nós, começar a se conscientizar de que esta doença é séria e que realmente precisa de tratamento adequado e de apoio das pessoas mais próximas do depressivo, pois sem o apoio dessas pessoas, o quadro clínico só piora. Não é por se tratar de algo psicológico que não deve ser levado a sério, a depressão é muito mais grave do que muitas doenças físicas existentes. E, devido ao grande número de suicídios, ela mata mais do que várias doenças. Portanto, vamos se preocupar mais e ajudar mais quem conhecemos e sofremos disso, evitando o pior.
Referências
http://www.minhavida.com.br/saude/temas/depressao
http://drauziovarella.com.br/letras/d/depressao/
http://www.abcdasaude.com.br/psiquiatria/depressao
https://pt.wikipedia.org/wiki/Depressão_(humor)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Depressão_nervosa
http://www.contioutra.com/os-monstros-que-carregamos-reflexoes-acerca-da-depressao/
http://melhorcomsaude.com/pensamentos-transformam-doencas/
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-166X2006000200007&script=sci_arttext
http://medicineisart.blogspot.com.br/2010/10/luto-e-melancolia-sigmund-freud.html
https://www.psicologiamsn.com/2011/12/psicanalise-depressao-e-melancolia.html
https://pt.wikipedia.org/wiki/Sigmund_Freud
http://educacao.uol.com.br/biografias/sigmund-freud.htm
SANTOS, Adriana Marques dos; TEIXEIRA, Enéas Rangel. A depressão segundo Freud, Reich e Lowen: convergências e divergências. In: ENCONTRO PARANAENSE, CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICOTERAPIAS CORPORAIS, XVI, XI, 2011. Anais. Curitiba: Centro Reichiano, 2011. [ISBN–978-85-87691-21-7]. Disponível em: http://www.centroreichiano.com.br/artigos_anais_congressos_2011.htm Acesso em: 04/11/2015